A heroína vai caminhando e vê de longe a esfinge. Ela sabia
que a encontraria. Revia mentalmente todos os seus conhecimentos, tudo o que
aprendeu e assimilou para esse momento. Chega prostra-se na frente da Esfinge e
espera. Depois de algum tempo percebe que
algo está errado. A Esfinge parece “aérea” e distraída... Às vezes a olha de
soslaio, mas com um olhar displicente, como se não se desse conta de que ela
estava ali, toda “paramentada” na frente dela e naquele calorão de doido.
___Ô!!! Hei!!!
Pachorrentamente, a Esfinge se inclina para a heroína:
__Hã...? É comigo...? _ e olha ao redor.
__Putz... Descabelo-me toda numa viagem “feladaputa”, num
calor dos infernos nesse deserto causticante, sem comida, com pouca água,
borrando a maquiagem prá isso?... Claro que é contigo!! Com quem mais seria??
__ Sei lá. Não existo só eu no mundo, sabia? Diz a esfinge com cara de quem “não to nem
ai”!
__?!?! ?!?!?! Olhe ao redor!?!?!?!?! Você vê mais alguém?
__ Hummm... É mesmo. Isso anda tão deserto... Você sabe por
quê?
__Hã?! Catsu... você é louca?!?! Você é a Esfinge, certo?
__Sim.
__Então...?
__Então o que? Ta com o “miolo mole”, mocinha?
__ A pergunta!!!!!!
__Que pergunta meu bem?!?!
Nossa heroína joga sua espada e escudo ao chão aos pés do
colosso em total desespero. Olha incrédula para a figura enorme a sua frente
tentando decifrar o que seu olhar quer dizer. No que, a bendita Esfinge, só faz
devolver o olhar na maior languidez como se diante dela existisse apenas um
belo sorvete de casquinha de pistache.
Sem saber mais o que fazer nossa destemida aventureira se
joga no chão de costas, fica contemplando o céu azul, sentindo o calor quase
insuportável da areia esquentar sua armadura. É quase um autoflagelo para
recuperar o controle. Depois de certo tempo, ela ouve:
__Cuidado...
Com as esperanças renovadas ela levanta de um só pulo, pega
o escudo se arma com a espada, conserta a coluna e espera a continuação e, de
boca aberta ela ouve:
__Essa areia é muito quente... Você pode ter insolação, adquirir facilmente
um câncer de pele e comprometer este seu tão sexy visual, querida! Bobagem
estragar rostinho tão... Hummm... Tentador...
Estupefata ela continua na mesma posição, sem saber como
reagir.
Começa a achar que está louca e que aquilo era uma miragem
lisérgica. Esfrega freneticamente os
olhos tentando apagar a visão, mas, obviamente não consegue. A Esfinge toda
solícita, oferece:
__É cisco? Quer que eu sopre? Que pena... Você borrou seu
rímel...
__Não!!! Quero a pergunta!!! A pergunta!!!
__Ih... Lá vem você linda, com esta história de pergunta de
novo... Aliás, o que veio fazer aqui sozinha, nesse deserto, neste calor de
crematório... O que vc quer?!?!?
__Passar!!! Eu quero passar!!!
__Ah, passar “não pode”!!! Diz a esfinge meneando
languidamente a poderosa cabeçorra.
__Então!!! É isso que estou dizendo!!! Quero passar e você
tem de fazer a pergunta!!!
__Tenho?? Qual??
__ “Decifra-me ou te devoro”! Essa pergunta!!
__Nunca ouvi antes... E se você decifrar-me? O que
acontece?
__Ai meu Jesus Cristinho com o carneirinho nas costas...
Bem que mamãe falou pra eu ser vigarista, larápia, gatuna... Mas não, tinha de
me meter a ser heroína... Uma amazona destemida... Aiii... Se eu decifrar, eu passo, entende?!
__Hum... É... Parece divertido... Parece justo... Tá bom.
__Então???
__Então o que?
__A PERGUNTA!!!!!!
__Mas você não já sabe a resposta? Tem que perguntar? Esses
humanos e, principalmente essas “mocinhas andrógenas”... Tá bom, lá vai:
“Decifra-me ou te devoro!”
Silêncio. Nossa heroína, empolgadíssima aguarda a segunda
parte da pergunta. Aquela que selará o seu destino. A glória da morte ou a
alegria da vitória, o coração pulsava, ela suava, tremia não de medo, mas de
emoção. E esperou... Um minuto... Dois minutos... Foi ficando impaciente:
__Cadê?!
__Aiiii! Com mil escaravelhos, menina!... Cadê o que agora?
__O resto da pergunta. O Enigma!!!
__Resto? Ora... Não tem resto... É isso. Decifra-me ou te
devoro. Gostei... Simples e objetivo. É
só.
Abismada, ela olha no fundo do olho da Esfinge na esperança
de entender o que aquilo queria dizer, de poder penetrar em sua rebuscada mente
e compreender o que se passava por lá. O que ela queria dizer com aquilo.
__Nãooo! Tá errado!
Tem de ter outra pergunta. Assim não dá!
__Assim não dá? Assim você não me decifra?
__Não.
__Hummm...
Novo silêncio.
__Então tá. Foi sua idéia. Corre.
__O que?!?!?!
__Corre. Você não me decifrou. Corre.
__Mas... Você não perguntou...
__Perguntei, você me olhou o quanto quis, tanto que até
quase me apaixonei na mira desse seu olhar modelo Cleópatra e, não conseguiu me
decifrar. Corre.
__Mas assim você é indecifrável! Tem que falar algo...
__Bom, sempre me disseram que não sou muito de falar.
Corre.
__Mas...
Paft, pou, nhac, burp, teim, teim... Burp!!!
__Mandei correr...
(Monólogo da Esfinge)
...Humm... Tô sentindo um arrependimentozinho tão
dolorido... Ela bem que me pareceu interessante... Tão destemida, tão
charmosa... E, que belíssimo trazeiro!
Próxima vez que aparecer por aqui outra incauta
aventureira, e, se tiver tão tentadores predicados... Acho que mudarei essa
minha dieta! Será bem mais divertido “degustar” vítima tão trigueira em minha
milenar alcova... Hehehe... Ai, ai... Que lindo par de coxas e que apetitosa
boca doida de marasquino!!!... Aff!
Tá decidido!!! Chega de “desperdício”!!!... Tsc... Tsc..
Bem feito pra mim!... Preciso parar de ser assim tão
abstêmia e pudica. Ora, ora... Além de perder tão “deliciosa” companhia, ainda
por luxo, vou engordar uns quilinhos... Humpf!
Mto ingrata esta profissão de esfinge!... Ninguém merece!
Próxima vez eu juro que o enigma será:
“Decifra-me, que te degusto inteira!”
Daí... Dou uma de doida, monto pirâmide pra moça, encomendo
perfumes, lingerie sexy e especiarias do Cairo, sais de banho do Oriente....
Humm, quem sabe até aqueles artefatos eróticos que tanto ouvi falar... Dou um
Look no visual que to mesmo precisando (o meu 'Enigma continua o mesmo', mas,
os meus cabelos...! Estão péssimos com toda essa areia e vento do deserto,
arguiiii, que descuidooo! ) e depois... Hummm... Ora!
__Bah...! Que seja lá o que Nefertite quiser!
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