segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Asi...y asi


“Apaixona-me
perdidamente
ter você asi, a arder
a latejar impunemente
a queimar profusamente
combalindo minhas defesas
dominando-me del pronto y del quatro
  habitando incontinente
intensamente
por todo el siempre
del maneira absoluta
na medida exacta
cada fenda, cada fração
cada centelha y mísero
orifício del espaço y del tiempo
cambiando infinitamente estrelas y temblores
dientro del mi...”



(Sortilege)


Ontem depois que te enviei aquele email bem à tardinha, fui assistir algo e dormi um sono comprido... num esvair de letargia eterna articulando esquecimento e, submergindo assim inesperadamente para o nada, sonhei você e eu imersas em uma banheira de lousa murano em forma de concha escavada no chão. 
Ela era quase opalescente e até a borda cheia de água sulfurosa, tépida. Espuma, aromas exóticos... Eu podia sentir e identificar todas estas impressões de maneira descomunal neste cenário de desdobramento de percepção. Sons, cores, luz de velas coloridas de cera de abelha perfumadas refletindo e cambiando matiz bruxuleante por todo o ambiente.
O vapor fluindo em círculos concêntricos, o padrão do piso, das paredes e pavimentos em peças de majólica coloridas e congruentes, ajustadas umas às outras, de forma contínua a formarem mosaicos de selos (Dios... selos como aqueles das cartas medievais em que o remetente o fazia em lacre diamond e o assinava com o brasão de seu anel) em tons vermelho jaspe entremeando anagramas em azul turquesa e que, em seus caracteres e simbolismo, narravam sobre nós. 
Podia ouvir o rumor buliçoso da água despedaçada pelo movimento dos nossos corpos nus coesos ali agarrados, tangidos pelo encanto da força de atração.  Calor, sede, desejo queimando, consumindo sem extinguir numa dor avassaladora de prazer que chega - que já está e que não pode partir sem deixar marca. 


Você me pegando, possuindo todos os espaços físicos e qualquer orifício de persona e eu ali, te pertencendo tanto...  Até que você segurando-me sempre, sentou-me encaixada a cabeceira madrepérola desta cavidade côncava e se aprumou sobre minha face como uma deidade fêmea com teu sexo escorrendo em meus lábios... Eu te senti, como se fosse tu a minha essência, meu âmago e totalidade a entornar-me pela boca, pela alma. Eu te bebia te comendo, comungando-me em vínculo de profundeza insondável contigo. 
Neste instante e deste modo em que estávamos as duas em nós definidas - quando meus olhos por fração de segundos desviaram do cravar esmeraldino dos teus fitos nos meus, percebi admirada que não existia ‘teto’ neste espaço em que estávamos...e sim, aberta para a noite obsidiana, uma  imensa abóbada cravejada de estrelas, planetas a girarem poliedros em sequência nautillus e, ao centro espiralado, uma Stela  platinada de todas as fases lunares a nos fazer vigília como imensas sentinelas brancas. Todas elas, ali perfiladas em elemento e ao mesmo tempo existindo e perpetrando em uníssono a eficácia de seus domínios manifestos.

E, foi assim que abri os olhos no máximum do limite imponderável das sensações e vertigem, amada minha  - Nem viva e nem muerta, nem desperta e nem dormindo... Nem inteira e nem pela metade - apenas ‘repleta de ti numa lucidez incomensurável jamais concebida, jamais imaginada’ e tendo a certeza que depois deste exótico episódio onírico, deixei de SER o que quer que seja que eu cria ser.

Ah... Como são confinatórios e transtornantes estes arroubos de sentimentalidade ao me fazerem sentir como se eu fora um ‘eco’ de nós duas enfeitiçado e preso a um vórtice de espaço tempo que desconhece o próprio Tempo!  - Acho que devo me tratar, pois não há consolo e lenitivo para profundidade de lacunas tão desmesuradamente avassaladoras -  SOS terapia intensiva, injeção na testa, coquetel Molotov de barbitúricos, eletro-choque, sossega leão, camisa de força e ‘suíte’ de 2mx2m acolchoada, pois, não aguento sozinha processos tão agudos e bizarros de cognição... Pensando bem, nem Neruda no auge de sua tórrida e delirante paixão por Matilde Urrutia aguentaria, obsessão de amor tão desconcertante!


Contigo irei


Irei debruçar minha lira sobre sua tez
Para desbravar a escuderia de seu coração
Arrancar suas sandálias, desnudar seus pés
Rebentar seu colar, encontrar sua pulsação
Desofuscar seus olhos
Perfumar-lhe o corpo
Abarcar-me em seu colo ao cambiar nossos sonhos
Atordoar seus ossos
Eleger-me seu escopo
Besuntar com seiva seus tornozelos

Desembocar na hidrografia das suas pernas
Cintilar e bambear com esmero seus joelhos
Sibilar em seus ouvidos adorações ternas
Valsar na cadência de seus quadris
Contrair com doçura seu abdômen
Embrenhar-me na torrente de seus ardis
O ferendar-lhe em Cancun um totem
Arquejar suas vértebras, eriçar seu dorso
Desfolhar-lhe a intimidade ritmadamente
Ciclonizar sua relva, embalar seu repouso
Vislumbrar suas mãos agarradas trêmulas em mim
Esvoaçar seus cabelos com ternura infinita
Tatuar meu nome em seus lábios enquanto você me chama
Provocar-lhe lampejos, espasmos únicos e raros de contentamento

Só contigo transpor planícies, oceanos de tempo e qualquer obstáculo
E desposar-te entre as flores do Lácio




sábado, 22 de dezembro de 2012

Mephistos



Ah... 
Se eu soubesse o quanto me seria
 tão cruel e venenoso este amor medonho,
que ao nascer chegou imenso,
não teria permitido que vingasse e se nutrisse farta e comodamente 
afiançado a metade minha, como se ali latejasse um pedaço meu...
Teria abortado-o sem piedade das entranhas em raiz
Tê-lo-ia morto sem dó no ninho sufocado com
sua própria ternura concupiscente ou enquanto
trôpego engatinhava sorrindo, vindo até mim
com suas mãozinhas esticadas e dissimuladas
exigindo cumplicidade e ilibada partilha.
Matá-lo-ia mil vezes e outras mais mil vezes ainda
como se aniquila com horror uma traiçoeira Mamba
...ou se amputa um membro doente gangrenado
Ah... Pelas deusas eu juro que nestas horas sem fim em
 que a toxidade dessa dor covarde não tem mais cabimento,
que sim... Sim... Sim... Sim...
- A este abominável negro amor que me condena,
eu d e s p e d a ç a r i a !

Além-dor (Memória da Pele)




Aceita: a felicidade é rápida, provisória como o instante. É um clarão. Um relance. Um lampejo. Um relâmpago. E hoje o céu nem tem nuvens.


Não sei que bicho me mordeu, nem que feitiçaria me tocou - é sempre a mesma vontade magoada de tecer versos. Pequenos versos de algodão - retalhos - costurados à força em uma manta roxa que nunca que se finda. Manta esta que é meu capote, meu guarda-chuva e guarda-frio. Meu passaporte às terras de Além-dor.



Sacrilege


Parte-me...

Arrebenta-me ao meio angústia assombrosa,

devorando pedaço a pedaço todo e qualquer fragmento de serenidade.

É a dor em mim habitando, corroendo cada centímetro de esperanças um dia traçadas.

Sonhos esfacelados desfeitos enfeitam meu aniquilamento dando ênfase cruel aos

espasmos deste desgosto obsceno que trago hoje vincado a alma e a cara.

Morro todos os dias e todos os dias renasço, subjugada a sanha desta expiação devastadora,

neste infindável tormento onde não existe alívio ou mortificação medonha

que baste!