segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Intensidade




Quando dizemos que conteúdo e forma são concomitantes e indissolúveis em nosso espírito, não estamos a pensar em certos mistérios da vida afetiva. Um exame de consciência, uma auto-observação cuidadosa, revela-nos, na vida sentimental, por exemplo, fatos desta natureza: experimentamos emoções, sentimos profundamente certos estados anímicos - e não encontramos meios para os definir. Não é porventura freqüente o caso de simpatias e antipatias involuntárias? Quantas vezes não simpatizamos com uma pessoa, sem nenhuma razão, sem nenhum motivo, sem que nada tenha feito essa pessoa para receber nossa simpatia. Em casos como este, temos consciência de nosso estado de simpatia - mas não sabemos explicá-lo, nem defini-lo. É um estado bem vivo em nós - e, no entanto indefinível, ou indizível.

Muito mais que o homem comum, o artista, vivendo mais intensamente a vida afetiva, sente esse indizível dentro de si. E sua maior angústia espiritual é encontrar a expressão para essa realidade visceralmente sentida, mas incompreendida. O drama do artista é sempre a "luta pela expressão". E quando o artista consegue vencer a impotência expressiva, e alguma coisa dizer das infinitas e misteriosas ressonâncias de seu mundo interior - essa alguma coisa é sempre muito pouco em face do que ficou incompreendido. Uma obra literária, em face do indizível que ficou na alma do artista é, uma "franja residual" do oceano infinito e inquieto das emoções. O progresso da linguagem e da experiência humana é ininterrupto, suas conquistas são permanentes; mas o mistério da vida é infinito, e a arte há de sempre lutar com o indizível.

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