sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Desejo

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Desejo...
Beijar-te sentindo nossas línguas entrelaçadas...
O gosto da sua saliva na minha fundida...
Seu cheiro... Sua pele
Seu gosto na minha boca e o meu na sua...
Mãos ávidas do corpo da outra...
Te olhar nos olhos sentindo o seu peso sobre mim
Devorar e ser devorada...
Desejo mais que profundo é o que nos une.
Quero poder estar contigo assim.
De maneira tão intensa quanto esperada.
E depois dormir a sua boca na minha.




domingo, 7 de setembro de 2008

"Desamador"

O DESAMADOR
   
Não sou capaz de amar por piedade. Amar é estar no mesmo nível, com a mesma altura dos ombros, o tremor de balbuciar e logo beijar para não esquecer o que o corpo pede. Não é rebaixar ou cumprir um favor. Amar não é uma compensação. Amar não dá poder, é o despoder. Ensina a generosidade, a vontade de se diminuir para que o amor aumente. Amar é ceder o gosto, a vida, o futuro. É oferecer a metade da gaveta, da cama, da luz, do banho, da mesa, da folha. É oferecer o que ainda nem se chegou a conhecer. Tenho sim piedade daqueles que empregam o amor como forma de tirania. Que falam em vão do amor como se fosse fácil encontrá-lo. Que não exercitam a delicadeza, a retribuição e o cuidado atento e gritam com quem quer apenas sussurrar. Armam-se do autoritarismo, da vassalagem, da discórdia. Não aceitam o contraponto, a discordância. Para assegurar o domínio, rebaixam seu par para que ele fique dependente, menor, indefeso (não forte, confiante e otimista como deveria ocorrer e que acarretaria independência). Que envenenam com ofensas indiretas ou ironias quando sua vítima está desprotegida. Que não entendem que toda palavra é um pedaço da boca e que a boca sangra com facilidade. Que acreditam que o parceiro ou parceira não tem escolha e que ficará se sujeitando aos seus terrores e dissabores. Da figura do desamado, o que sofre solitário, surge o desamador, o que desagrega a solidão e faz sofrer. Porque ele recebe o amor e troça de sua força. Seduz por diversão e hábito, pouco se importando com o envolvimento que se segue. O desamador dirá depois de usar o amor: "Não prometi nada". Lavará as luvas para não comprometer as mãos. Omitirá compulsivamente,  o que é mais repulsivo do que mentir. O desamador não tem nada a perder, pois não ama. O desamador chamará qualquer cobrança de neurose, de doença, de loucura. Fará a pessoa se sentir torta, infeliz, incriminada de rancor. Depois ainda vai contar para seus amigos e amigas que está sendo perseguido e apagará o que não combina com sua versão. O desamador não fica doente, adoece o mundo. O desamador não é facultado ao ódio, quem dera. O ódio ainda facilita o amor. O desamador recorre à intolerância. Chora somente no sufoco, pede desculpas no momento de ser desmascarado, mas não muda, continuará maltratando com a indiferença. Ele não é bom muito menos ruim, é apático. Seu autoritarismo é negação da fraqueza. Tudo o que acontece de errado em sua vida vai transferir para quem está ao seu lado. O desamador emprega a crueldade da reticência, do subentendido, não assume suas escolhas. Induz sua companhia a entender sem dizer nada. O desamador gera culpa, dúvidas, incertezas. Não declara sim ou não. Delicia-se com a confusão. Quanto mais culpa, mais ele exercerá sua autoridade. Parte da ilusão de que ele ou ela não voltará atrás. Condiciona seu afeto a uma esmola. Custo a crer que o desamador nasceu do ventre de uma mulher.